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Lisboa, 12.1.2015

 

Aos doze dias do mês de Janeiro de dois mil e quinze, pelas catorze horas e cinquenta minutos, na sala do conselho Científico da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, deu-se início a uma reunião com membros convidados do projecto Bases Conceptuais da Investigação em Pintura e com o seu coordenador professor António Quadros Ferreira, tendo estado presentes os seguintes elementos: Isabel Sabino, Margarida Prieto, Hugo Ferrão, Filipe Rocha da Silva, Tomás Maia e Rui Serra. A reunião foi presidida pelo coordenador e secretariada por Rui Serra.

Esta reunião teve como principal objectivo a apresentação do referido projecto, bem como a clarificação dos seus propósitos, a sugestão de possíveis metodologias de trabalho e a auscultação dos elementos presentes.

Num primeiro momento tomou a palavra o Professor António Quadros Ferreira, tendo apresentado, de forma genérica, o projecto Bases Conceptuais da Investigação em Pintura. Explicou que o título ainda é provisório e apresentou um calendário de trabalho, dividido em duas grandes fases, correspondentes aos períodos 2014-2016 e 2016-2019, sendo cada uma delas dividida em quatro momentos de participação (individual, em grupo e em equipa) dos vários elementos do projecto. Na primeira fase o objectivo consistirá, após um momento em que cada elemento apresenta uma proposta de investigação, em definir processos, nomeadamente a organização de áreas temáticas, e a constituição de grupos. A segunda fase, por sua vez, pretenderá aprofundar em equipas o que resultar dos trabalhos desenvolvidos pelos variados grupos. O coordenador também estabeleceu que todos os trabalhos deverão ser oportunamente discutidos, sempre em função da dinâmica dos resultados obtidos até ao momento.

Numa segunda parte da reunião tomaram a palavra os elementos convidados presentes, reflectindo sobre os conteúdos do projecto e apresentando sugestões ao mesmo.

Margarida Prieto colocou a questão de saber se é possível serem feitos, desde já, projectos artísticos com possível discussão, ao que o coordenador respondeu ser desejável, num primeiro momento, haver uma certa uniformidade de resultados, ou seja, que todos os membros exprimam as suas intenções de investigação através de texto.

De seguida, Isabel Sabino, na sequência de documento apresentado e que se anexa a esta acta, tomou a palavra referindo que este projecto é bastante aberto e lhe parece haver alguma escassez de definição de objectivos e de critérios, isto é, pensa que deverá haver uma formulação clara de objectivos e metas a atingir, deverá ser identificado o que já foi (ou está a ser) feito em relação às possíveis problemáticas levantadas (um estado das questões das mesmas), e definidas dúvidas que persistem, tudo isto antes da constituição de equipas ou o estabelecimento de timings. A este respeito opina também que as balizas temporais das duas fases do projecto lhe parecem extremamente curtas. Isabel Sabino, refere ainda que esta iniciativa deveria servir para criar um networking que permitisse aos investigadores e criadores possuir um espaço de fórum futuro, com possível obtenção de apoios institucionais. Acrescentou, por último, que o título deste projecto lhe suscita algumas dúvidas, ao que o coordenador respondeu que este nome foi gerado apenas para assegurar o início do projecto, e o que se pretende neste momento é tirar dúvidas e saber da disponibilidade de cada um dos investigadores e criadores para a prossecução dos trabalhos.

Seguidamente, Hugo Ferrão referiu a necessidade de ser definida, o quanto antes, uma arquitectura específica da investigação e, corroborando a opinião de Isabel Sabino, pensa haver uma dimensão política no modo como este projecto está delineado, pelo que deverá ser criada uma rotina de fóruns (algo semelhante a um Laboratório das Artes), com mais encontros de discussão entre investigadores e criadores. António Quadros Ferreira respondeu que na primeira reunião de Novembro de 2014, na F.B.A.U.P., colocou-se a hipótese da criação de uma plataforma electrónica onde poderá haver debates (sem dispensar a realização de encontros), algo que será aprofundado na próxima reunião de Junho. Hugo Ferrão acrescentou ainda que a secção Ciberarte do C.I.E.B.A. (da F.B.A.U.L.), da qual é coordenador, irá abrir brevemente uma revista online (com validação internacional), a qual estará aberta e disponível à participação de todos os elementos deste projecto. E por último referiu que destes encontros deveriam também surgir equipas que se debruçassem sobre o ensino artístico em Portugal nas últimas décadas. A este nível Isabel Sabino acrescentou ser imprescindível a constituição de um ‘estado da questão’ do ensino artístico não só a nível nacional, mas também internacional.

Filipe Rocha da Silva, por sua vez, colocou em questão o conceito básico de pintura como sendo apropriado para não haver demasiada generalidade na definição do projeto, relacionando-o com o conceito de tecnologia e confrontando - o com outras formas de intervenção artística. Concorda com a constituição de equipas, de modo a que as contribuições individuais sejam menos fragmentárias.

Tomás Maia questionou o coordenador sobre o porquê da determinação dos cinco anos para o projecto, ao que o mesmo respondeu que esta iniciativa foi proposta à Universidade do Porto como contrapartida pelo título que lhe foi concedido de Professor Emérito durante esse período, e acrescentou que pretende, em Setembro, no final da primeira fase e já com algum trabalho realizado, confrontar a mesma Universidade com a necessidade de haver financiamento para este projecto. Por outro lado, Tomás Maia pensa haver duas questões não esclarecidas no documento inicial apresentado: primeira, será o coordenador a constituir os diversos grupos e equipas? E segunda, o resultado final deste projecto deverá ser um texto colectivo, dando-se primazia à ‘investigação escrita’? Maia pensa que poderão (e deverão) haver outras modalidades de concretização do projecto, inclusive no domínio da criação plástica, e propõe a realização de um ‘livro colectivo’ dinâmico, no fim da segunda fase em 2019.

Margarida Prieto intervém especificando que conhece o exemplo de um projecto no Brasil em que um coordenador pensa inicialmente um tema e um texto, e depois, mediante a abordagem multidisciplinar de investigadores e criadores, define-se todo um processo de trabalho que culmina na realização de uma conferência e publicação, salvaguardando que as várias áreas do conhecimento participantes se interliguem entre si. Isabel Sabino deu também como exemplo a boa estruturação da investigação artística brasileira, cujos investigadores e criadores estão corporizados em estruturas bem definidas, e que se reúnem com normalidade para debaterem algumas das questões enunciadas agora neste projecto. Acrescentou que poderiam ser criadas estruturas de organização de fóruns de debate e, inclusive, deveriam ser definidos os alicerces para a constituição de um corporativismo artístico nacional.

Por sua vez, Rui Serra referiu que se encontra num momento de intensa criação plástica, e que prefere enquadrar-se neste projecto dentro de uma linha (ou tema) de investigação existente que não colida com os seus propósitos artísticos. Nessa medida, uma vertente que problematize a identidade autoral e os processos de trabalho plástico em atelier, poderá constituir-se como um campo de investigação no qual produzirá resultados. Tomás Maia menciona ainda que haverá toda a vantagem em não se cair no erro de definir investigação como redacção de textos e criação como mera concretização de obras plásticas.

E, por último, Isabel Sabino propôs que se acrescentasse uma dimensão mais poética ou metafórica ao título do projecto, de modo a que se possam prever e incluir outras soluções que não somente as teóricas, alargando assim o espectro de actuação deste projecto a possíveis universos extra-universitários.

O coordenador António Quadros Ferreira, no final da reunião, sintetizou algumas das ideias-chave debatidas na reunião, concluindo que este projeto deverá conciliar duas grandes áreas do saber: a reflexão teórica e a produção artística.

Sem mais assuntos, deu-se por encerrada a reunião pelas dezassete horas e dez minutos.

Faculdade de Belas-Artes da Universidade de lisboa, 12 de janeiro de 2015

 

Anexo:

documento da Professora Isabel Sabino

BASES CONCEPTUAIS

I.

Questões prévias maçadoras para decidir:

a)

O presente projeto é um projeto de investigação?

Se sim, como tudo indica, deverá obedecer a uma estrutura e sequência que passa por etapas, por exemplo como: 1. definição da questão a tratar e seus objetivos; 2. resumo; 3. estado da arte; 4. índice possível, componentes e sequência; 5. aspetos metodológicos incluindo calendarização.

Isso não significa, naturalmente, que uma abordagem inicial que acompanha a formação e estabilização da equipa não possa, e não deva, proceder de modo mais informal, preparando uma posterior sistematização. Parece ser isso, de resto, que está a ser feito.

b)

Na sequência da alínea anterior, coloca-se como necessário definir o campo de reflexão e objetivos, sobre os quais o programa inicial de convite propõe “um trabalho de investigação que equacione a relação ou correspondência entre investigação e criação em pintura”[1].

Há que reforçar ou contrariar, esclarecendo desde já, a decisão que centra em pintura o campo de análise, bem como, caso essa limitação seja a opção, desconstruir e identificar parcelarmente o que pode ou não caber nesse terreno.

c)

É possível identificar áreas de análise mais particulares e recorrentes centradas na diferenciação de tipologias de investigação em arte, sugerindo-se como possíveis:

- a que define uma tipologia estritamente teórica, ou seja, sem criação artística;

- a investigação no seio estrito da criação pictórica (é esta que define inteiramente teoria e prática: os objetivos do projeto artístico enunciam, perspectivam e limitam a pesquisa);

- a colaboração articulada entre teoria e prática, sob diferentes modelos de relação causa/consequência de ambas e com finalidades diferenciadas, podendo sintetizar-se em esquemas conceptuais: ou de relação linear, ou de integração por extrapolação ou aprofundamento, ou por paralelismo e analogia, etc..

II.

Áreas de interesse pessoal (temático e metodológico) e sugestões concretas de trabalho:

1. Trabalho concreto em investigação artística e não sobre investigação artística, nomeadamente:

a. participação em projetos em que a interação prática pictórica/teoria possa ser efetivada, mas assente na prática artística: modelos-tipo simpósios e residências;

b. colaboração em equipas que tratem temas específicos do pensamento pictórico e sobre pintura, produzindo conhecimento teórico;

c.  recurso a um mote ou pretexto diferenciador (de tipo alegórico[2] no qual possam integrar-se todas as linhas de abordagem do presente projeto, por exemplo através de uma metáfora provocadora que configure de modo mais artístico ou poético um “chapéu” para o mesmo).

2. Trabalho perspectivado para a dos investigadores artísticos, visando sobretudo potenciar 3 linhas de finalidades – conhecimento, consciência e capacidade de pressão institucional.

  • Dinamizar a possibilidade de uma organização de investigadores artísticos em Portugal com caráter mais ou menos corporativo (não se trata de um laboratório associado com fins de investigação; uma associação destas teria finalidades de mobilização, representação, defesa, promoção dos investigadores em arte, podendo assumir também a missão de organizar encontros e publicações).

  • Organização de 1 encontro anual, com publicação de atas, visando:

  • equacionar o estado de evolução geral, com convite a investigadores nacionais e estrangeiros que possam contribuir com a apresentação de diferentes situações e experiências, bem como para a organização em rede nacional e sobretudo internacional;

  • estabelecer uma visão panorâmica e detalhada dos projetos levados a efeito nos últimos 10 anos (por exemplo) em Portugal – formato fórum, modelo apresentações curtas/painéis temáticos, integrando na publicação a casuística sobre investigação em arte (exemplos de doutoramentos, pós-doutoramentos e outros projetos em curso ou levados a cabo) bem como a possibilidade de criação de uma boa base bibliográfica;

  • Criação de espaços de publicação periódica e discussão de ideias.

 

[1] AQF, excerto do texto de convite à participação no projecto na mensagem de correio electrónico de 15-09-2014 (tópicos mais desenvolvidos na anexo de 16-09-2014).

 

[2] Eu mesma já o tenho feito, sendo disso exemplo a alegoria da formiga que usei no elogio de Paula Rego na reitoria da UL para a concessão do doutoramento honoris causa.

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