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Albuquerque Mendes

A pintura como tema

 

 

Mostrar abre um universo, o do poder da imagem. Ninguém quer ser silencioso no mundo de hoje. Nas ” selfies”, por exemplo, temos o agora de todos nós. O artista, quer ser contemporâneo no trabalho produzido. Será mesmo verdade?
 Quando olho para a arte de hoje, ela tende a ser um ecrã sobre o homem e o seu desígnio – a morte. Não será sempre assim. A luz que emana dessa janela/ecrã, será suficientemente forte para nos cegar? Nós já tomamos como existência tranquila o lugar de toda a história de arte. Esconder e mostrar, são os lados do poder da imagem, como a construímos agora. As perguntas têm grande importância.
Olho um elemento da natureza – uma árvore - e penso nas suas representações através da História. Nunca deixou nem nunca deixará de ser, a representação de uma árvore. No final, essas transformações apontam para a nossa ignorância.
Traçamos uma linha no horizonte e seguimo-la com o olhar. Temos um olhar mais eficaz com as tecnologias do presente, ou isso serve-nos de desculpa. Nós, os que trabalhamos com esse poder da imagem, é como se tivéssemos sempre uma faca apontada. Tentamos, cada um à sua maneira, lamber as feridas, tentando que as próximas não sejam tão dolorosas.
A memória é o doce saber dos outros. Na migração do saber, aparece aos artistas (como numa peça de Shakespeare) esse fantasma chamado pintura. Meio tão odiado e amado, nestes dias sombrios de horizontes curvos.
Todos nós temos uma nostalgia da história. Como cada um tenta resolver isso, passa a ser outra estória. Sempre se retoma a questão do existir. Quando utilizamos as imagens, elas significam uma montagem de significados precisos sobre nós. Elas são a continuação de uma mudança, nem sempre lógica mas ajustada ao nosso presente.
Olhamo-nos ao espelho e vemos uma imagem. Ela é o centro da história, embora seja o reverso. O nosso trabalho alimenta-se destes pequenos detalhes.
As mãos e a cabeça no acto da pintura, seguem o quotidiano do possível. Os modelos mudam e, nós acompanhamos esses dilúvios. O nosso corpo quer ser território, mas nem sempre nos basta. O nosso reflexo é visto como um campo vasto de questões referentes à nossa própria vida. Aqui, estamos no lugar do positivo a gerar o negativo. Todas as imagens têm um significado, mas elas abstraem –se dessa significação enquanto resultado  emocional.
Pintar hoje, é andar no deserto, tendo como modelo as miragens.

 

Santiago de Compostela, 2015

(29.7)

 

 

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