Fernando António Baptista Pereira
Nas origens da investigação em pintura: o ponto de vista de Francisco de Holanda (1517/18-1584)
A nossa condição de Historiador de Arte, na perspetiva «expandida» dos Heritage Studies que jamais se alheia das inquietações da criação contemporânea e da reflexão qualificada sobre ela, fez-nos pensar que o nosso melhor contributo para o debate em curso sobre as bases da Investigação em Pintura terá forçosamente de partir de um «regresso às origens», ao extraordinário legado teórico de reflexão sobre o estatuto e o lugar do Pintor e a ideia de Pintura que foram paradigmaticamente formulados por um pintor como Francisco de Holanda, em especial no seu Tratado Da Pintura Antiga, quer no seu Livro Primeiro, de exposição normativa, quer no Livro Segundo, na forma dos Diálogos de Roma, em que, nos três primeiros, Miguel Ângelo é uma das personagens, ilustrando através de «exemplos» o que anteriormente se apresentara num plano mais teorético. Também abordaremos a restante obra teórica do autor, assim como tudo o que a esse propósito podemos e devemos inferir da sua vasta obra artística de desenho e de pintura/iluminura que felizmente nos chegou.
Esta revisitação do que é o contributo mais fundamental (e também mais original) das categorizações teóricas de Francisco de Holanda, autor incontornável do Quinhentismo, que é a figura mais internacionalmente conhecida e admirada da Arte Portuguesa de todos os tempos, vai fazer-nos reencontrar a definição do perfil de um Pintor-filósofo (já não apenas como mero profissional de uma arte liberal) pensado como criador à imitação de Deus, conceito assente na defesa da superioridade metafísica da Arte, em que terão de confluir o «furor divino» e a «ciência», de modo a que o resultado final seja, como Holanda pôs na boca de Miguel Ângelo: com grande somma de trabalho e de studo, fazer a cousa de maneira que pareça, depois de mui trabalhada, que foi feita quasi depressa e quasi sem nenhum trabalho, e mui levemente, não sendo assim.
(30.1.2015)