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Filipe Rocha da Silva

 

 

 

A viabilidade e definição actuais da Pintura

 

 

Qualquer conceito existe pelo seu presente, que incluí o passado e expetativas para futuro.

 

A Pintura é hoje um conceito multiforme, com o qual um grande número de praticantes das artes ainda se identifica. Ela não implodiu nem explodiu.

 

Como é sabido esse conceito assenta tradicionalmente, desde os alvores da atividade humana, numa forma de fazer, com determinadas caraterísticas físicas e técnicas, que têm variado ao longo dos séculos, mas que apesar de tudo revela uma notável persistência.

 

Essa forma de fazer revela hoje um notável ecletismo de processos, visto que se podem obter resultados parecidos partindo de inúmeros meios tecnológicos.

 

O ponto de partida tecnológico não perdeu no entanto a sua relevância e atualidade, visto que muito do pensamento filosófico e critico contemporâneo parte justamente dessa forma caraterística e histórica de especificidade, determinada por aquilo que Foucault chamou uma Arqueologia.

 

Quando falamos em Pintura não nos estamos a referir portanto à forma de obter um resultado específico, visto que esta se diluiu nas contaminações do mixed media da última metade do século XX, mas sim a essa tradição multisecular na sua inesgotável exemplaridade.

 

Essa tradição ensina-nos que a Pintura nunca deixou de se renovar, embora manifeste ao longo da sua existência uma persistente continuidade.

 

Essa tendência obriga a uma análise cuidada, no sentido de poder antecipar de que forma irão essa renovação e continuidade funcionar no futuro.

 

Surgem assim algumas perguntas cuja resposta poderia constituir o cerne deste conjunto de questões:

 

1. Como caraterizar e definir essa continuidade plurisecular a que podemos chamar Pintura?

 

2. Como compreender as várias formas de Pintura que estão sempre a surgir naquele passado recente que se convencionou chamar a contemporaneidade?

 

3. De que forma interagiu essa, que chamamos Pintura, com os outros media?

 

Seria interessante iniciar o que de uma forma um pouco simplista se pode considerar uma renovada discussão das paragone, incluindo para alem da escultura, os specific objects de Judd e Morris, instalação, fotografia, cinema e todos os media digitais. Seria uma espécie de Observatório da Pintura, utilizando métodos comparativos e elegendo casos concretos e muito diversos.

 

Desde os anos 80 a história da arte vem sendo exaustivamente utilizada pela arte, através da aplicação de ferramentas e metodologias não – científicas da história, que se confundem com a prática artística do presente. No entanto as formas artísticas baseadas no mimetismo ou utilização lúdica do passado provocaram também uma fadiga, que só pode ser curada por um novo rigor concetual.

 

Aquilo que se convencionou chamar pintura ficaria desta forma talvez mais clarificado do ponto de vista do pensamento, o que permitiria lançar mais luz sobre as pinturas que se vão fazendo.

(15.1.2015)

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